Estudo destaca webdocumentários da Cross Content

Imagens de webdocumentários produzidos pela Cross ContentA dissertação de mestrado Webdocumentário, documentário interativo: A produção documental interativa no suporte digital, de Lorene Dias de Souza, apresentada na Universidade Federal de Uberlândia, busca um maior entendimento sobre as possibilidades de produção da narrativa documental no suporte digital e aborda as produções brasileiras. Os webdocumentários Rio de Janeiro – Autorretrato, Filhos do Tremor – Crianças e seus Direitos em um Haiti Devastado e Fora da Escola Não Pode!, produzidos pela Cross Content e dirigidos por Marcelo Bauer, estão entre os trabalhos analisados.

Para a autora, o surgimento de novas tecnologias digitais e da convergência de mídias transforma a produção documental interativa no suporte digital em um marco da tradição documentarista. A análise do estudo parte de dois aspectos: a linearidade do filme documentário tradicional e a não linearidade do documentário interativo.

A autora chama atenção para o aspecto ilimitado da experimentação diante das possibilidades tecnológicas, diante do qual “é possível determinar o ponto de partida, mas dificilmente a linha de chegada” desse tipo de produção. Sob o prisma da experimentação, Lorene destaca a autonomia do espectador que, antes das possibilidades oferecidas pelo suporte digital, incorporava a visão linear proposta pelo documentarista. No ambiente virtual, “o documentário se desdobra em mais de uma narrativa” onde o meio rompe com “a história unidirecional e a reconstrói em vários caminhos” cabendo ao espectador a escolha de qual caminho percorrer.

O estudo também acrescenta ao espectador o papel de “co-documentarista” diante da livre interferência no roteiro e a possibilidade de navegar por links ou participar de “discussões on-line no próprio ambiente da produção ou em mídias sociais vinculadas”.

Webdocs brasileiros

O Brasil aparece no estudo como um país com um “volume modesto de produções” frente às originárias da França, Alemanha, Estados Unidos da América e Canadá. A baixa produção está, possivelmente, relacionada à “relativa disponibilidade e respectivo custo de tecnologias, de plataformas e de mão de obra especializada no desenvolvimento desse tipo de produção”. E, também, à reduzida divulgação de obras estrangeiras e nacionais dentro do país. Entre as obras reconhecidas e de cunho social citadas no estudo estão três produções da Cross Content: Filhos do Tremor – Crianças e seus Direitos em um Haiti Devastado, Rio de Janeiro – Autorretrato e Fora da Escola Não Pode!.

Rio de Janeiro – Autorretrato é composto por produtos independentes e complementares: um curta-metragem, para exibição no cinema, um média-metragem, para TV, e um webdocumentário, disponível para visualização na íntegra. As obras retratam o trabalho de um grupo de fotógrafos do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. O estudo destaca o fenômeno dos sujeitos-produto da produção, quando os sujeitos retratados se envolvem em alguma etapa do projeto. “Como sujeitos-produtores, os fotógrafos trazem ao webdocumentário seus olhares e pontos de vista, abrindo espaço para evidenciar a imagem dos próprios moradores acerca da sua cidade, no caso o Rio de Janeiro”, analisa Lorene.

Filhos do Tremor – Crianças e seus Direitos em um Haiti Devastado foi produzido a partir de imagens gravadas por organizações não governamentais e agências da Organização das Nações Unidas (ONU). A produção traz imagens chocantes do trabalho de resgate e de socorro nos primeiros dias após o terremoto que atingiu o país em 2010. O webdocumentário mostra como as crianças – que são 40% da população do país – foram especialmente afetadas pela tragédia. Muitas ficaram órfãs, outras foram afastadas de suas famílias e levadas ilegalmente para o exterior. Para a autora, a produção apresenta aspectos típicos de um documentário interativo no modo hipertextual aproximando-se dos documentários interativos Moss Landing, The Big Issue, Becoming Human, Journey to the End of Coal e Diamond Road Online. “Ainda que a formatação em episódios dê a impressão de uma navegação igual e idêntica, isso não ocorre em relação ao tema – que aqui acede a situações e histórias não iguais para todos e cada um – e, sim, quanto à estrutura oferecida na interface.”

Fora da Escola Não Pode! foi produzido pela Cross Content, em parceria com o Unicef e Campanha Nacional pelo Direito à Educação. O projeto é parte de uma iniciativa multiplataforma que conta com diversos materiais on-line e off-line, como o relatório Todas as Crianças na Escola em 2015 (iniciativa global pelas crianças fora da escola); as publicações Fora da Escola Não Pode! O Desafio da Exclusão Escolar (2013); O Enfrentamento da Exclusão Escolar no Brasil (2014) e outros. O webdocumentário apresenta um raio x com números e perfis de crianças fora da escola nos 5.565 municípios brasileiros, com base nos dados do Censo Demográfico 2010, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O site também conta com minidocumentários sobre experiências bem-sucedidas de enfrentamento à exclusão escolar e de ferramentas de mobilização para que cada um possa fazer a sua parte.

A tese Webdocumentário, documentário interativo: A produção documental interativa no suporte digital, de Lorene Dias de Souza, apresentada na Universidade Federal de Uberlândia, está disponível neste link. 

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