Unicef lança panorama da pobreza multidimensional no Brasil

As múltiplas dimensões da pobreza na infância e na adolescência no Brasil

No Brasil, ao menos 32 milhões de meninas e meninos (63% do total) vivem na pobreza, em suas múltiplas dimensões: renda, educação, trabalho infantil, moradia, água, saneamento e informação (pobreza multidimensional). É o que indica a pesquisa As múltiplas dimensões da pobreza na infância e na adolescência no Brasil, lançada nesta terça-feira (14/2) pelo Unicef. O estudo apresenta dados até 2019 (trabalho infantil), até 2020 (moradia, água, saneamento e informação), até 2021 (renda, incluindo renda para alimentação) e dados até 2022 (educação).

A Cross Content participa deste projeto realizando toda a produção editorial dos materiais. A iniciativa multiplataforma inclui brochura, vídeos, apresentação (PPT), material para site e redes sociais e vídeos. Os materiais vão ser lançados em breve. O trabalho envolveu visitas in loco em três estados, para produção de reportagens, fotos e vídeos, e a realização de mais de 100 entrevistas. Veja a equipe envolvida.

Com este projeto, o Unicef alerta para a urgência de priorizar políticas públicas com recursos suficientes voltadas a crianças e adolescentes no País. “A pobreza na infância e na adolescência vai além da renda. Estar fora da escola, viver em moradias precárias, não ter acesso a água e saneamento, não ter uma alimentação adequada, estar em trabalho infantil e não ter acesso à informação são privações que fazem com que crianças e adolescentes estejam na pobreza multidimensional”, explica Liliana Chopitea, chefe de Políticas Sociais, Monitoramento e Avaliação do Unicef no Brasil.

“Na maioria das vezes, essas privações se sobrepõem, agravando os desafios enfrentados por cada menina e menino. Por isso, é urgente o Brasil olhar para a pobreza de forma ampla, e colocar a infância e a adolescência no orçamento e no centro das políticas públicas.”

Análise da pobreza multidimensional

Para analisar a pobreza multidimensional, foram utilizados dados oficiais, da Pnad Contínua, relacionados a sete dimensões: Renda, Educação, Trabalho Infantil, Moradia, Água, Saneamento e Informação. Além disso, foi realizada uma análise específica sobre a renda para alimentação. Os resultados revelam um cenário preocupante. O último ano para o qual há informações disponíveis para todos os indicadores é 2019 – quando havia 32 milhões de meninas e meninos de até 17 anos privados de um ou mais desses direitos. Para os anos seguintes, só há dados de educação e renda, incluindo renda para alimentação – e todos pioraram.

Em 2021, o percentual de crianças e adolescentes que viviam em famílias com renda abaixo da linha de pobreza monetária extrema (menos de 1,9 dólar por dia) alcançou o maior nível dos últimos cinco anos: 16,1%, versus 13,8%, em 2017. No caso da alimentação, o contingente de crianças e adolescentes privados da renda necessária para uma alimentação adequada passou de 9,8 milhões, em 2018, para 13,7 milhões, em 2021 – um salto de quase 40%. Já na educação, após anos em queda, a taxa de analfabetismo dobrou de 2020 para 2022 – passando de 1,9% para 3,8%, segundo estimativa com base na Pnad Contínua trimestral.

Os mais impactados pela pobreza multidimensional

A pobreza multidimensional impactou mais quem já vivia em situação mais vulnerável – negros e indígenas, e moradores das regiões Norte e Nordeste –, agravando as desigualdades no País. Entre crianças e adolescentes negros e indígenas, 72,5% estavam na pobreza multidimensional em 2019, versus 49,2% de brancos e amarelos. Seis estados tinham mais de 90% de crianças e adolescentes em pobreza multidimensional, todos no Norte e Nordeste.

Entre as principais privações que impactam a infância e a adolescência estão a falta de acesso a saneamento básico (alcançando 21,2 milhões de meninas e meninos), seguida pela privação de renda (20,6 milhões) e de acesso à informação (6,2 milhões). A elas se somam a falta de moradia adequada (4,6 milhões), privação de educação (4,3 milhões), falta de acesso a água (3,4 milhões) e trabalho infantil (2,1 milhões). No total, são 32 milhões crianças e adolescentes afetados por uma ou mais de uma dimensão da pobreza multidimensional.

Recomendações do Unicef

“Os desafios são imensos e inter-relacionados. Para reverter esse cenário, é preciso políticas públicas que beneficiem não só as crianças e os adolescentes diretamente, mas também mães, pais e responsáveis, especialmente os mais vulneráveis”, afirma Liliana Chopitea. O Unicef recomenda as seguintes iniciativas contra a pobreza multidimensional:

  • Priorizar investimentos em políticas sociais.
  • Ampliar a oferta de serviços e benefícios às crianças e aos(às) adolescentes mais vulneráveis.
  • Fortalecer o Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente.
  • Implementar medições e o monitoramento das diferentes dimensões da pobreza e suas privações por um órgão oficial do Estado.
  • Promover a segurança alimentar e nutricional de gestantes, crianças e adolescentes, garantindo a eles(as) o direito humano à alimentação adequada e reduzindo o impacto da fome e da má nutrição nas famílias mais empobrecidas.
  • Implantar com urgência políticas de busca ativa escolar e retomada da aprendizagem, em especial da alfabetização.
  • Priorizar, no âmbito das respectivas esferas de gestão, a agenda de água e saneamento para o desenvolvimento e implementação de políticas públicas.
  • Implementar formas de identificar precocemente as famílias vulneráveis a violências, incluindo trabalho infantil.
  • Promover e fortalecer oportunidades no ambiente escolar e na transição de adolescentes para o mercado de trabalho.

Sobre o estudo da pobreza multidimensional

A pesquisa As múltiplas dimensões da pobreza na infância e na adolescência no Brasil foi realizada pelo Unicef, com apoio da Fundação Vale. A pesquisa utiliza dados oficiais do Brasil. Para desenhar o cenário atual, foi utilizada a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) de 2017 a 2019/2020/2021/2022, dependendo da disponibilidade. A análise histórica foi feita com base na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008/2009 e 2017/2018. A POF foi utilizada, também, para analisar a dimensão de alimentação, que não é coberta de maneira sistemática pela Pnad Contínua. Em virtude das restrições impostas pela pandemia de covid-19, determinados indicadores, como trabalho infantil, não foram atualizados.

Além de mapear as múltiplas dimensões da pobreza – alimentação, renda, educação, trabalho infantil, moradia, água, saneamento e informação –, o estudo categoriza as privações em intermediária (acesso ao direito de maneira limitada ou com má qualidade) e extrema (sem nenhum acesso ao direito), de acordo com critérios como faixa etária, dados disponíveis e legislação do País. Há também análises por estado, cor/raça e gênero.

O estudo foi conduzido pelo economista Daniel Vasconcellos Archer Duque, pesquisador
do Instituto Brasileiro de Economia (FGV IBRE), para o Unicef.

 

Equipe Cross Content

Pela Cross Content, trabalharam neste projeto os seguintes profissionais:

Andréia Peres e Marcelo Bauer
Coordenação editorial

Heloisa Brenha, Lilian Saback e Mauri König
Reportagem

Carmen Nascimento
Edição de textos

Vitor Moreira Cirqueira
Projeto gráfico, diagramação e ilustrações

Gabriela Portilho e Sérgio Moraes
Fotos e vídeos

Roberta Fabruzzi
Edição de vídeos

Gabriel Marzinotto
Som direto

Luciane Gomide e Érico Melo
Revisão e checagem

Cross Content e o Unicef

Desde 2003, a Cross Content trabalha com o Unicef. Já realizou 34 livros para a instituição, além de folders, sites, webdocumentários e vídeos. Conheça mais sobre os trabalhos da Cross Content para o Unicef.

Em 2018, um livro produzido pela empresa foi vencedor do Best of Unicef Research 2018, que escolhe os melhores relatórios de estudos realizados pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância em todo o mundo.

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